Colcha de Retalhos

"O homem é um deus quando sonha e não passa de um mendigo quando pensa." Holderlin

Textos

ROMPANTE
Jogaram os fantasmas no precipício
Longe de mim tudo é vazio
Sou o que resta de um sonho acordado
A cicatriz de um corpo que caiu
Não me cabe a autoria do tombo
Quis sonhar o que não devia
Interditos interdizem comuns dizeres
Sou o que restou exposto
Da minha tardia alegria
Sombras de um sorriso esquecido
Olhos parados num horizonte tardio
Enfim sou a ausência da noitinha
O não ser dividido entre cores e breu
Cinza chumbo cinza dia
Grito choro estou sozinha
Sou apenas uma nau sem destino
Ou presa ao mar sou perdida
Jogaram as ilusões ao vento
Sem elas resta em mim
O rabisco de uma triste menina
Sou medo e sombras pequeninas
Tentativa de ser quando termino
Ponto final perco a expectativa
Não consigo retê-la em vírgulas
Busco a mulher no ventre
A cicatriz do umbigo
Queria preencher-me viver em mim
Apropriar de um novo nascimento
Cortar no corpo a ferida do princípio
Quantas fronteiras cruzei na busca
Prendi-me nos cantos limites
Seduzi o céu tentei salvar-me
Indiferente não me percebeu
Chorei o desencontro na avenida
Hoje choro grito estou sozinha
Permaneci sendo apenas tentativas
Libertei o vento não mais me acaricia
Deixei o véu cair na face da melancolia
O céu perdido de tantas estrelas
Quis ser a única em meu caminho
Soltei o destino o que estar por vir
Futuro distante não mais domino
Insisti no sonho tentei me resgatar
Dormi o devaneio insistente
Loucuras rotinas desatinos
Minha vida em sangue exposta ao mundo
Gritava na boca dos outros
Palavras feriam meu corpo
Caí ao chão não fui dona do tombo
Em lágrimas roguei o esquecimento
Tentei apagar os inocentes sorrisos
O corpo marcado corpo de cicatriz
Sou sombra do que fui
Marca no tempo vestígios de dor
Rugas nascem em meu espelho
Vejo-me maculas impróprias
Conheço-me no abandono
Excruciar-me excruciá-los tanto
tanto em quê?
Vigiai-me a alma no cativeiro
Misérias angústias se desvelam
Nuas em mim tentam me condoer
Vão intentos não mais ferida
Lembranças duradouras adoecem
Corpo retalhado em velhas cicatrizes
Sinto muita pena de mim
Muita em quê?
Aflijo-me pecados que não cometi
Rasga o céu de minha consciência
Durmo tento salvar-me no horizonte
Penetra-me o espírito do mundo
Minha lucidez me enfraquece
Retorna ao centro meu tormento
Queria apenas esquecer de mim
Por fim cicatrizar-me...

Inverno de 2004
Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 15/08/2005


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